ANSIEDADE ALIMENTAR E SAÚDE INTESTINAL: QUAL A RELAÇÃO E COMO GERENCIAR?
Todas as pessoas, em certos momentos, levam para a comida suas emoções. Não há nada de estranho nem de surpreendente nisso. Também não há nada de errado. Existem razões fisiológicas para que isso aconteça.
Nosso cérebro e nosso intestino estão interligados, tanto física, como quimicamente. A comunicação entre o sistema digestivo e o cérebro é chamada em inglês de gut-brain axis, ou eixo digestivo-cerebral. O nervo vago é um dos maiores do corpo humano e conecta o cérebro e o intestino fisicamente. Quimicamente, inúmeros neurotransmissores viajam o tempo todo entre esses dois órgãos, levando informações importantes que ditam o nosso comportamento, o nosso humor, a nossa memória e nossos desejos alimentares (cravings).
Há muitas décadas, a ciência já havia divulgado que a ansiedade e outras emoções contribuem para gerar problemas intestinais. E isso nós sentimos na prática, no estômago ou no intestino, quando estamos nervosos ou ansiosos (gastrite, diarreia, constipação e até úlceras – em cada pessoa o tipo de reação é diferente).
A partir de 2004, foram publicados estudos comprovando que a relação inversa também é verdadeira, ou seja, um sistema gastrointestinal irritado também afeta de forma decisiva o sistema nervoso central. Foi constatado que as mensagens enviadas pelo sistema digestivo ao cérebro são ainda mais fortes que as mensagens enviadas pelo cérebro ao intestino. Ou seja: cada alimento que ingerimos gera reações no sistema digestivo, capazes de afetar de maneira decisiva o nosso cérebro!
Por isso, tudo o que comemos influencia as nossas emoções (para o bem ou para o mal).
Nos nossos corpos vivem 30 trilhões de bactérias, sendo que 90% está em nosso sistema digestivo. Ou seja, nós seres humanos, na verdade somos “mais bactéria” que humanos! E essas bactérias têm um papel FUNDAMENTAL no nosso equilíbrio mental e emocional, justamente por causa do eixo digestivo-cerebral. Para que você tenha uma ideia, de 80% a 90% da serotonina produzida no corpo é fabricada no intestino!
Quando nós descuidamos da saúde do nosso sistema digestivo, comendo alimentos muito processados, cheios de aditivos químicos, substâncias sintéticas, carnes de animais que foram injetados com hormônios, emulsificantes, adoçantes e outros desse tipo, causamos um desequilíbrio bacteriano no intestino. As bactérias “ruins”, que se alimentam de açúcares e gorduras trans, crescem em número em relação às bactérias “benéficas” (as que nos ajudam a produzir vitaminas, aminoácidos e ácidos graxos de cadeia curta). Também causamos uma redução na diversidade de bactérias, o que prejudica a nossa saúde intestinal e o nosso sistema imunológico.
Esse desequilíbrio bacteriano manda estímulos ao nosso cérebro, que geram um aumento do estresse e da ansiedade, podendo também trazer uma série de outros problemas de saúde como depressão, fadiga, confusão mental (a chamada brain fog), doenças autoimunes, doenças cognitivas como Alzheimer, doenças cardiovasculares, e até câncer.
A boa notícia é que, quanto mais equilibradas e diversas as bactérias do nosso intestino, maior será a nossa saúde mental e emocional e menos ansiedade sentiremos. As bactérias “boas” inclusive podem diminuir os níveis dos hormônios do estresse em nosso corpo (como a adrenalina e o cortisol) e regular os hormônios que geram bem-estar, como a serotonina, a dopamina e a GABA (Ácido Gama-aminobutírico, um neurotransmissor que atua como relaxante).
Então, quando comemos alimentos provenientes diretamente da natureza (frutas, verduras, alimentos fermentados de forma natural, carnes e ovos orgânicos, nozes e sementes), estamos automaticamente trabalhando na saúde intestinal e na diminuição da ansiedade. Assim, cada vez menos vamos comer por razões puramente emocionais.
Comments